O Velho Chico sabia encantar a gente. Chegava sorridente, brincava com todo mundo. Ria tanto de si mesmo, dos infortúnios e das sortes da vida que não nos deixava ver o que trazia de fato por dentro.
Sujeito curtido da vida, rugas que lhe emolduravam os olhos naquele sorriso largo de quem parecia não saber o que era triteza.
Mas, um dia, aparentemente comum como qualquer outra manhã de sexta-feira, Chico vem para sua última consulta, para sua consulta de alta.
Estava diferente naquele dia, sorria, como sempre, mas tinha em si um traço qualquer de ansiedade, um nervosismo talvez. Uma apreensão que não demonstrara antes nem mesmo no dia da cirurgia dos implantes. Enfim, a vida nos ensina a ler as pessoas e mudanças, mesmo que sutis, com a experiência acabam por se deixar perceber.
Prótese instalada, parafusada, fixa como Chico sonhava em ter. Ele se olhou no espelho, sorriu, abriu bem a boca, puxou a prótese para se certificar de que estava realmente fixa a boca... explodiu em lágrimas... chorou como eu não cria que fosse capaz de chorar o Velho.
O Velho Chico, que Deus o tenha, não saiu do consultório para casa como poderíamos imaginar que fosse fazer. Para mostrar à família a nova conquista. Não, quando finalmente conteve o choro, ele disse “vou comer uma coxinha com catupiry na Du Campo. É o que eu mais gosto nessa vida e faz anos que não como porque a dentadura soltava”.
Lá se foi o Velho Chico pela rua a fora, de sorriso novo, chorando de felicidade.
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